segunda-feira, 21 de julho de 2008

Coisas da Faculdade...

A velha Fac de Letras de Lisboa, situada nas caves e cocheiras do palacete ou convento que foi a Academia das Ciências, devia ser a única escola superior do mundo para a qual se entrava descendo escadas...
Havia uma aula tão comprida e estreita, que lhe chamávamos "o carro eléctrico", e a penumbra era tal que mal se via a secretária do Mestre, lá ao fundo. A Aula Magna metia respeito, com os quadros retratando antigas personagens da cultura lusa.
Mas foi aí que tivemos o previlégio de ouvir dissertações magníficas de Lentes e Assistentes, que nos deixavam de boca aberta de pasmo e de puro goso intelectual.
E eram tantos, Sued! Nem me atrevo a citar nomes, para não ofender a memória de nenhum. Mas não resisto a deixar caír um nome: Vitorino Nemésio. Aulas? Não, aquilo eram mais charlas, evocações, confidências, tudo ao sabor da corrente, sem preparação que se visse. Uma delícia. O pior era quando queríamos tirar apontamentos...
Muitas ninas, raros ninos. E, entre estes e aquelas, padres e freiras, com certa fartura.
A velha Fac de Letras de Lisboa era a coutada de caça dos manos de Ciências e de Direito, que iam para lá catrapiscar as nossas coleguinhas. Nós, com aquela abundância toda ao nosso dispor, íamos, parvamente, caçar fora. Tanto quanto sei, apenas um ou dois dos meus colegas veio a casar com prata da casa.
Nem Associação de Estudantes havia, quanto mais salas de estudo...
Eu ia para a Escola Politécnica, lá mais acima, para estudar e conviver. E namorei muito, naquele jardim botânico, mas isso fica para depois.
Nesses tempos, o meu Pai ensinava na Fac de Ciências. Um dos meus gosos era perguntar aos alunos, que eu sabia serem dele, se tinham lá um prof assim e assado e como era ele.
Os manos desabafavam comigo, pois o Pai era exigente e avarento nas notas, e chamavam-lhe aqueles nomes todos que vocês estão a imaginar. Ao que eu respondia, com ar ingénuo: "Tem graça, ele lá em casa não é assim..." O pânico era generalizado, quando percebiam que tinham estado a insultar o meu Pai, convencidos de que eu lhe poderia ir fazer queixinhas.
Assim se passava.
Relembrando...

3 comentários:

Anónimo disse...

Boa,isso é que é escrever e relembrar.Quero mais,com blogues assim até vale a pena ligarmo-nos à blogosfera.Vai já para os favoritos.

Violeta

Anónimo disse...

JB,tem alguma coisa a ver com uma marca de bebida? Caneco!!!!!!

O Verdes

Anónimo disse...

Estou com curiosidade de ouvir mais estórias desse tempo. Mas não só aquelas que se podem contar às crianças.

O vermelho