terça-feira, 22 de julho de 2008

Mais do Camões...

Toda a malta cabulava. Toda, menos o Anacleto Gordo.
E uma vez ele chibou-se ao prof e foi um descalabro.
Fui encarregado de aplicar o castigo pelo chibanço. Mas o Anacleto percebeu que ia ser punido e deixou de ir ao recreio, e a mãezinha vinha buscá-lo ao liceu todos os dias.
Como aplicar o justo correctivo, votado pela turma, em assembleia secreta?
O prof de Física, o Piruças, anunciou que ia fazer uma aula sobre electricidade, com ampla produção de faíscas, na sala escurecida.
Era agora, ou nunca. O Anacleto Gordo estava sempre sentado na fila da frente, porque era pitosga. Eu, sentava-me atrás, como qualquer cábula que se preza.
Mal se correram as cortinas e a sala ficou escura, com ampla produção de faíscas, no estrado, levantei-me e fui à frente, pé ante pé, e apliquei um enorma chapadão ma mona do Anacleto.
Fiquei estarrecido de pavor: o Anacleto era careca!
Nada disso, era pior ainda: o prof Piruças sentara-se no lugar do Anacleto, para ver melhor as faíscas, e eu acabara de lhe dar uma tapona tão grande que ele quase caíu do banco.
Consegui voltar a correr para o meu lugar, antes que o Piruças, cambaleando, abrisse as cortinas e perguntasse, agarrado à careca, quem é que o tinha agredido, para que fosse expulso do liceu.
Claro que ninguém se chibou do carrasco. Toda a turma foi suspensa, e o Anacleto Gordo acabou por levar com a sentença.
....
Acharam giro? Copiei isto de um livro de Erich Kastner, "Emílio e os Detectives". Ou julgaram que era verdade?

Sem comentários: